A projectação em Design, como na arquitectura e na engenharia, decorre de premissas éticas que são absolutamente óbvias para quem as escolhe, abraça e pratica. Não se trata de fazer feio podendo fazer bonito, trata-se sobretudo de o fazer inteligentemente e perante isso não pode haver alternativa. A própria beleza decorre dessa perfeição lógica e emocional e não é um fim em si mesma. É indissociável da boa solução. Se parte dela ou a ela permite chegar é outra questão. (Conta-se que Marcel Dassault, questionado acerca da razão que o tinha levado a apostar antes de todos os outros num improvável perfil de asa para o Mirage III, e que os estudos aerodinâmicos posteriores vieram a rectificar, disse simplesmente: Era evidente: era o mais bonito!)
Carlos Aguiar, 2009.
quinta-feira, junho 27, 2013
quarta-feira, junho 26, 2013
Um significado mais profundo
Para o viajante sem preconceitos, a imagem de uma rua com gente, uma certa incidência do sol, um pequeno pormenor de atitude de um desconhecido que revele uma certa maneira de estar no mundo, podem ter um significado mais profundo do que a rosácea da catedral ou a contemplação das obras-primas do museu.
Sena da Silva, 1926 - 2001.
domingo, junho 23, 2013
The deciphering of what we are
Within the spectacle of this difference the sudden flash of an unfindable identity. No longer a genesis, but the deciphering of what we are in the light of what we are no longer.
Pierre Nora
sexta-feira, junho 21, 2013
Compel you to dispel your disbelief
Garry Winogrand, "Los Angeles". Circa 1980.
sábado, junho 15, 2013
quinta-feira, junho 13, 2013
o terror da beleza, isso, o terror da beleza delicadíssima
até cada objecto se encher de luz e ser apanhado
por todos os lados hábeis, e ser ímpar,
ser escolhido,
e lampejando do ar à volta,
na ordem do mundo aquela fracção real dos dedos juntos
como para escrever cada palavra:
pegar ao alto numa coisa em estado de milagre: seja:
um copo de água,
tudo pronto para que a luz estremeça:
o terror da beleza, isso, o terror da beleza delicadíssima
tão súbito e implacável na vida administrativa
Herberto Helder, Servidões (Assírio & Alvim, 2013).
por todos os lados hábeis, e ser ímpar,
ser escolhido,
e lampejando do ar à volta,
na ordem do mundo aquela fracção real dos dedos juntos
como para escrever cada palavra:
pegar ao alto numa coisa em estado de milagre: seja:
um copo de água,
tudo pronto para que a luz estremeça:
o terror da beleza, isso, o terror da beleza delicadíssima
tão súbito e implacável na vida administrativa
Herberto Helder, Servidões (Assírio & Alvim, 2013).
segunda-feira, junho 10, 2013
Não é manso nem meigo, não é mau nem ilegal
Um poema não é uma coisa que se coloca sobre o teu dia como um condimento sobre o teu almoço. A vida de uma pessoa não tem material semelhante a nada que conheças. Existir é feito de peças impossíveis de copiar. E a poesia não entra nesse material único - a vida de uma pessoa - como o avião no ar ou o acidente do avião na terra dura. Um poema não é manso nem meigo, não é mau nem ilegal.
Os homens não se medem pelos poemas que leram, mas talvez fosse melhor. O que é a fita métrica comparada com algo intenso? Há poemas que explicam trinta graus de uma vida e poemas que são um ofício de demolição completa: o edifício é trocado por outro, como se um edifício fosse uma camisa. Muda de vida ou, claro, muda de poema.
Gonçalo M. Tavares, A perna esquerda de Paris (Relógio D'Água, 2004).
domingo, junho 09, 2013
Dentro de casa
Todas as casas se parecem
com um naufrágio ou um saque
testam sucessivamente a elasticidade de gerações
compõem-se de heranças, jogos descasados,
cinco ou seis cores que vão ficando
sinais de um poder apenas atenuado
Quando estamos fora
à mercê dos elementos
o mundo celebra em nós
aquilo que se extingue
José Tolendino Mendonça
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