sexta-feira, junho 29, 2012

It doesn't really matter

When asked whether she thinks it's unusual for someone to move at that age, she waves her hand dismissively. It doesn't really matter, she says, because she never had a home to which she could return.

Susanne Beyer, sobre Gabriele Köpp.

via Malomil

quarta-feira, junho 20, 2012

My dear X

"You seem to have grasped the point that there is something idiotic about those who believe that consensus (to give the hydra-headed beast just one of its names) is the highest good. Why do I use the offensive word "idiotic"? For two reasons that seem good to me; the first being my conviction that human beings do not, in fact, desire to live in some Disneyland of the mind, where there is an end to striving and a general feeling of contentment and bliss.

My second reason is less intuitive. Even if we did really harbour this desire, it would fortunately be unattainable. As a species, we may by all means think ruefully about the waste and horror produced by war and other forms of rivalry and jealousy. However, this can't alter the fact that in life we make progress by conflict and in mental life by argument and disputation. (...)

My dear X,
Beware the irrational, however seductive. Shun the "transcendant" and all who invite you to subordinate or annihilate yourself. Distrust compassion; prefer dignity for yourself and others. Don't be afraid to be thought arrogant or selfish. Picture all experts as if they were mammals. Never be a spectator of unfairness or stupidity. Seek out argument and disputation for their own sake; the grave will supply plenty of time for silence. Suspect your own motives, and all excuses. Do not live for others any more than you would expect others to live for you."

Letters to a Young Contrarian, Christopher Hitchens (Basic Books, 2001).

quarta-feira, junho 13, 2012

Reverter a partir da tona

toma, mário,

, uns falham, outros só tentam acertar
não há meio termo nisto.
é como o lindo hot humano que, feliz
incompreendido, reverte a partir da tona
para te bronzear.
porque tudo o que brilha se te vende.
eu nunca me vi gritar, mas que me parece
ser essa a única forma de te doer.
hás-de não conseguir, hás-de chegar
com a cabeça aos joelhos
e daí para a frente é só chão.
estou pronto para te desistir.
brindo e que corrosives.
um beijo, teu camané


Nuno Moura, "Poetas sem qualidades" (Averno).

Essa mulher não existe


Inge Morath. Arthur Miller and Marilyn Monroe (Reno, 1960).

Há alturas em que penso que a fotografia foi inventada por haverem poemas para ilustrar. Há outras em que tudo isso me parece perfeitamente inútil. Mas se toda a poesia é inútil.

terça-feira, junho 12, 2012

Dias úteis

Uma mulher de 92 anos presa em 1980, que me dá o nome de Jorge, diz que tenho os olhos bonitos e a barba a aparecer, pergunta-me: "E se eu gostasse muito de morrer?". Depois beija-me a mão e pede desculpa.

domingo, junho 10, 2012

Nesta cidade

Vejo os taxistas de manhã a limpar os seus carros: uma zelo contrariado, bruto, estofos demasiado brilhantes para a elegância e para sempre um infinito banco de trás onde me permito não usar cinto. Os táxis são os únicos carros onde não uso cinto: abro o vidro e deixo-me deslizar naqueles bancos pretos (imagino sempre os táxis com bancos pretos, nunca reparo de que cor são na realidade). Quando o carro curva, deixo-me levar um pouco e imagino o que aconteceria se me deixasse rebolar e para lá da porta do lado esquerdo houvesse um outro mundo onde os táxis não precisassem de cintos. No outro dia um taxista queixa-se de que já tinha sido condutor de pesados, já não tinha costas para isso, já não havia mãos para isso, algo sobre perda e eu emocionei-me com a noção de escala de um homem que parecia entender a minha necessidade de seguir sem cinto. Olhou, viu a janela aberta e calou-se. Julgo que seguimos os dois emocionados, que ele percebeu que embora não o estivesse a ouvir o tinha percebido o suficiente para dele me recordar e ficámos por ai.

Mas volta, volta sempre.

O que nós contemos é demasiado para acabar. Acredito que a imortalidade possa ser uma grande maçada, ainda por cima sabendo que nós humanos não somos flores que se cheirem. Mas admitamo-lo: viver sabe a pouco, mesmo quando se morre de excesso de vida. Não há refúgio possivel nestas alturas: leio Unamuno, leio Séneca, leio a minha Bíblia e não há santuário nem consolo. Depois passa. Mas volta, volta sempre. Estou zangado. Apetece-me grafittar esta cidade que está luminosa com a frase do Sénancour: «Se é do pó que viemos e é para o pó que vamos façamos que isso seja uma injustiça».

Nuno Miguel Guedes, "A vida tem morte a mais".

Persist

At the heart of desire is a misregognition of fullness where there is really nothing but a screen for our own narcissistic projections. It is that lack at the heart of desire that ensures we continue to desire. To come too close to our object of desire threatens to uncover the lack that is, in fact, necessary for our desire to persist, so that, ultimately, desire is most interested not in fully attaining the object of desire but in keeping our distance, thus allowing desire to persist. Because desire is articulated through fantasy, it is driven to some extent by its own impossibility.

Dino Felluga.

via