terça-feira, maio 08, 2012

As coisas do corpo

Demasiado internas para lhes conhecermos os contornos.
Demasiado ocultas para lhes saber as razões.
Ostensivas, as coisas do corpo exibem-se perfeitas. Segundos
em que cheguei a odiá-las. Estavam demasiado longe
dos lugares a que devíamos regressar quando eu envelhecesse.
Puxei-te pela mão. A mão soltou-se do teu corpo.
Coloquei-a no lugar do coração; com as unhas
construí um fecho novo para o colar de pérolas;
vendi a pele e voltei a encher o frigorífico.
Alguém se sentou à mesa. Tinha o teu nome gravado;
um rosto sem marcas, irreconhecível,
aguardava a mão capaz de lhe levar coisas à boca.
Coisas de alimento às coisas do corpo. Como esta mão a bombear-te
o coração do lado errado do peito.

Inês Fonseca Santos, "As Coisas" (Abysmo, 2012).

1 comentário:

Anónimo disse...

Achei que vc precisava ver isso:

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=Oq559cT-dcM

O poema, de Martim Codax (que é a trilha do espetáculo todo), é esse:

Ondas do mar de Vigo
Ondas do mar de Vigo,

se vistes meu amigo?

E ai Deus!, se verra cedo?


Ondas do mar levado,

se vistes meu amado?

E ai Deus!, se verra cedo?


Se vistes meu amigo,

o por que eu sospiro?

E ai Deus!, se verra cedo?


Se vistes meu amado,

por que ei gran coidado?

E ai Deus!, se verra cedo?

Quantas sabedes amar amigo
Quantas sabedes amar amigo

treides comig' a lo mar de Vigo.

E bannar nos emos nas ondas!


Quantas sabedes amor amado,

treides comig' a lo mar levado.

E bannar nos emos nas ondas!


Treides comig' a lo mar de Vigo

e veeremos lo meu amigo.

E bannar nos emos nas ondas!


Treides comig' a lo mar levado

e veeremo' lo meu amado.

E bannar nos emos nas ondas!

Ay Deus, se sab' ora meu amigo
Ay Deus, se sab' ora meu amigo

com' eu senneira estou en Vigo!

E vou namorada.


Ay Deus, se sab' ora meu amado

com' eu en Vigo senneira manno!

E vou namorada.


Com' eu senneira estou en Vigo,

e nullas gardas non ei comigo!

E vou namorada.


Com' eu senneira en Vigo manno,

e nullas gardas migo non trago!

E vou namorada.


E nullas gardas non ei comigo,

ergas meus ollos que choran migo!

E vou namorada.


E nullas gardas migo non trago,

ergas meus ollos que choran ambos!

E vou namorada.

Ai ondas que eu vin veer
Ai ondas que eu vin veer,

se me saberedes dizer

por que tarda meu amigo

sen mí?


Ai ondas que eu vin mirar,

se me saberedes contar

por que tarda meu amigo

sen mí?

Abraço,
Alberto.