quinta-feira, junho 13, 2013

o terror da beleza, isso, o terror da beleza delicadíssima

até cada objecto se encher de luz e ser apanhado
por todos os lados hábeis, e ser ímpar,
ser escolhido,
e lampejando do ar à volta,
na ordem do mundo aquela fracção real dos dedos juntos
como para escrever cada palavra:
pegar ao alto numa coisa em estado de milagre: seja:
um copo de água,
tudo pronto para que a luz estremeça:
o terror da beleza, isso, o terror da beleza delicadíssima
tão súbito e implacável na vida administrativa

Herberto Helder, Servidões (Assírio & Alvim, 2013).

1 comentário:

Anónimo disse...

Maravilhoso. Por associação de ideias surge o Terror de te amar, da Sophia de Mello Breyner, na sequência deste.