segunda-feira, agosto 30, 2010
On The Line
According to a recent estimate by the C.D.C. an average of eighteen American veterans kill themselves every day. That number accounts for 1/5th of all of suicides in the United States.
Ashley Gilbertson na VII Magazine, via A Photo Editor.
domingo, agosto 29, 2010
segunda-feira, agosto 23, 2010
O Problema da Compaixão Selectiva
Aqueles que conseguem estabelecer fronteiras nítidas no sofrimento são capazes das piores brutalidades tanto para lá como para cá dessas fronteiras: é uma advertência que surge nítida, por exemplo, já em Marco Túlio Cícero, e que Immanuel Kant celebrizou com a ideia de "deveres indirectos" para com os animais não-humanos. A nossa moralidade, ou se quisermos a nossa "humanidade", afere-se pelo modo como a nossa compaixão se espraia até aos confins do sofrimento, sem estabelecer demarcações. Aquele que assiste com deleite a uma tourada, aquele que não se condói com a fome de um cão, aquele que não se revolta contra a pancadaria com que se "mói" a "teimosia" de um burro – está já a demonstrar, por muito pouco que tenha a consciência disso, a sua capacidade de compaixão selectiva, a sua capacidade para se insensibilizar a formas nítidas de sofrimento.
Façam o favor de marcar O Jansenista.
Façam o favor de marcar O Jansenista.
sexta-feira, agosto 20, 2010
O Manual dos Inquisidores
- Deita aqui
e o meu corpo se transformou num túnel de mudez em que martelavam os ecos do meu sangue, ao passo que em nossa casa não existiam gritos nem lágrimas, os silêncios resumiam-se aos silêncios sem estranheza de quando a gente dorme e podia perceber-se um pássaro nas copas, o atrito da água ou um estalo de móvel, principalmente no verão, com os armários e as arcas a chamarem por mim
- Paula Paula
de maneira que quando a minha madrinha me disse
- O teu pai vem visitar-te amanhã
não senti nada porque não sabia o que a palavra pai queria dizer, fiquei apenas curiosa já que nenhum homem nos entrara em casa com a sua tosse, as suas zangas, os seus cheiros, a imaginar um homem na nossa sala, na nossa cozinha, no quintal das traseiras, um homem grande demais para o espaço em que eu vivia por os homens me parecerem desajeitados e enormes, por aos nove ou dez anos os homens se afigurarem um vendaval confuso de ordens e de pêlos, não fiquei contente por ter um pai, não fiquei com vontade de conhecê-lo por medo dos seus jornais e dos seus berros, fiquei curiosa a supor o que o meu pai faria na nossa casa, que roupa usava, que poltrona escolhia, se passava a mão na minha bochecha e se a mão na minha bochecha me aleijava, de que falaria com a minha madrinha, se me levava com ele para longe de Alcácer e de repente receei que me levasse e principiei a chorar e a ver as cegonhas fazerem o ninho na chaminé do notário, a primeira cegonha deitada no ninho e a segunda imóvel, não a vogar, imóvel, a minha madrinha a pousar o abano do fogão
- O que foi Paula?
António Lobo Antunes (Dom Quixote, 1996).
e o meu corpo se transformou num túnel de mudez em que martelavam os ecos do meu sangue, ao passo que em nossa casa não existiam gritos nem lágrimas, os silêncios resumiam-se aos silêncios sem estranheza de quando a gente dorme e podia perceber-se um pássaro nas copas, o atrito da água ou um estalo de móvel, principalmente no verão, com os armários e as arcas a chamarem por mim
- Paula Paula
de maneira que quando a minha madrinha me disse
- O teu pai vem visitar-te amanhã
não senti nada porque não sabia o que a palavra pai queria dizer, fiquei apenas curiosa já que nenhum homem nos entrara em casa com a sua tosse, as suas zangas, os seus cheiros, a imaginar um homem na nossa sala, na nossa cozinha, no quintal das traseiras, um homem grande demais para o espaço em que eu vivia por os homens me parecerem desajeitados e enormes, por aos nove ou dez anos os homens se afigurarem um vendaval confuso de ordens e de pêlos, não fiquei contente por ter um pai, não fiquei com vontade de conhecê-lo por medo dos seus jornais e dos seus berros, fiquei curiosa a supor o que o meu pai faria na nossa casa, que roupa usava, que poltrona escolhia, se passava a mão na minha bochecha e se a mão na minha bochecha me aleijava, de que falaria com a minha madrinha, se me levava com ele para longe de Alcácer e de repente receei que me levasse e principiei a chorar e a ver as cegonhas fazerem o ninho na chaminé do notário, a primeira cegonha deitada no ninho e a segunda imóvel, não a vogar, imóvel, a minha madrinha a pousar o abano do fogão
- O que foi Paula?
António Lobo Antunes (Dom Quixote, 1996).
quarta-feira, agosto 18, 2010
Gabriel Jones
Navigating between photography and silk screened video stills, Jones’ work hovers between the imaginary and the hyper real, leaving an arsenal of impressions that transcend time and ultimately loose their threatening effect.
Foi ele que tirou estas fotos.
segunda-feira, agosto 16, 2010
Diary of a Bad Year
Thus we stood for a moment. Behold, who can tell the workings of the Lord, I thought to myself. At the back of my mind there was a line of Yeats too, though I could not pin down the words, only the music. Then I took the required step forward and embraced her, and for a whole minute we stood clasped together, this shrunken old man and this earthly incarnation of heavenly beauty, and could have continued for a second minute, she would have permitted that, being generous of herself; but I thought, Enough is enough, and let her go.
J. M. Coetzee, 2007.
É este livro que (quase) começa com ele perdido na lavandaria e ela a rasgar tudo com um vestido vermelho. Vês.
J. M. Coetzee, 2007.
É este livro que (quase) começa com ele perdido na lavandaria e ela a rasgar tudo com um vestido vermelho. Vês.
sábado, agosto 07, 2010
A subversive Disneyland
“No one makes art for art’s sake,” says Walsh. “There are only two reasons to create art: to get laid or defy death.”
Uma mistura de subversão, hedonismo e pura sorte.
O que há para não gostar no Mona de David Walsh?
P.S.: Na foto, "Tracing Time" de Claire Morgan, que faz parte da colecção.
segunda-feira, agosto 02, 2010
Burn, burn, burn
The only people for me are the mad ones,
the ones who are mad to live,
mad to talk,
mad to be saved,
desirous of everything at the same time,
the ones who never yawn or say a commonplace thing,
but burn,
burn,
burn,
like fabulous yellow roman candles exploding like spiders across the stars
and in the middle you see the blue centerlight pop
and everybody goes “Awww!”
Jack Kerouac
the ones who are mad to live,
mad to talk,
mad to be saved,
desirous of everything at the same time,
the ones who never yawn or say a commonplace thing,
but burn,
burn,
burn,
like fabulous yellow roman candles exploding like spiders across the stars
and in the middle you see the blue centerlight pop
and everybody goes “Awww!”
Jack Kerouac
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