"Acredito que as religiões possam cumprir um papel importante, porque todas se esforçam por impor modelos éticos num mundo desde sempre confuso. Não tenho a certeza que exista uma ética natural; não me atrevo a defender a superioridade moral das beterrabas em relação aos leões, por exemplo, porque estes últimos vivem do assassinato e as beterrabas não. As religiões tranquilizam-nos ao defenderem que sim, que existe uma ética universal, inspirada por Deus, e ao mesmo tempo impedem-nos, ou deveriam impedir-nos, de ser leões o tempo inteiro. Isso poderia explicar, realmente, o sucesso das religiões. Sociedades religiosas tenderiam a ser mais estáveis do que as outras. Por outro lado, olhando para trás, para a História da humanidade, o que vemos é uma brutal sucessão de conflitos que têm por base as religiões.
Desconfio que as religiões, todas elas e em especial as três grandes religiões monoteístas, nos têm trazido mais infelicidade do que conforto. Sinto-me pois tentada a concordar com quem defende que a nossa propensão para o sagrado resulta de um qualquer erro genético. Deus é um gene coxo. Não consigo explicar, contudo, a popularidade desse erro a não ser com o argumento de que há (houve sempre) erros muito populares. Hitler foi um erro muito popular."
por Faíza Hayat, na Pública de 23.09.07.