É um mundo pequeno,
habitado por animais pequenos
– a dúvida, a possibilidade da morte –
e iluminado pela luz hesitante de
pequenos astros – o rumor dos livros,
os teus passos subindo as escadas,
o gato brincando na sala
com o último raio de sol da tarde.
Dir-se-ia antes uma casa,
um pouco mais alta que um império
e um pouco mais indecifrável
que a palavra “casa”; não fulge.
Em certas noites, porém,
sai de si e de mim
e fica suspensa lá fora
entre a memória e o remorso de outra vida.
Então, com as luzes apagadas,
ouço vozes chamando,
palavras mortas nunca pronunciadas
e a agonia interminável das coisas acabadas.
Manuel António Pina, Como se desenha uma casa (Assírio & Alvim, 2011).
1 comentário:
Eu queria dizer que fui em Portugal e comprei esse livrinho pq o tinha visto aqui. Tinha levado aquele Lisboa de Pessoa, mas nem continuei a ler, fiquei com as poesias de Pina. Vez ou outra abria o livro e lia na viagem. Acho que já começo a decorar uns versos. Eu queria agradecer.
Enviar um comentário