sexta-feira, outubro 05, 2012

O país da não-inscrição

Significa isto que a vida portuguesa não comporta verdadeira tragédia. Se a morte nela não se inscreve, se não há morte trágica, nenhum outro acontecimento conseguirá realmente produzir sentido. Porque a morte, como acontecimento irremediável e necessariamente trágico (ontologicamente trágico, como des-inscrição radical de uma existência na vida), deve inscrever-se na vida para que esta se torne possível e faça sentido para os vivos.


José Gil; Portugal Hoje: o Medo de Existir (Relógio D'Água, 2004).

1 comentário:

a ortónima disse...

Não sei como seria a conjuntura de 2004, mas a vida portuguesa recheia-se de tragédia, de um fado interminável. Talvez por estar diariamente rodeada de morte, de mortes trágicas, este texto não me faça sentido. O excerto é interessante enquanto exercício ontológico, mas a relação causa-efeito estabelecida é redutora. O sentido da vida não é uma equação matemática.

Deixo o link de um artigo do Público, recente, que me impressionou de algum modo e ilustra bem o quão as palavras se tornam superficiais quando desligadas do contexto real a que se aplicam.

http://www.publico.pt/Sociedade/em-2009-houve-um-suicidio-em-cada-quatro-horas-segundo-dados-que-devem-pecar-por-defeito-1562201