Ou, inquieto, um dia acordo e descubro um tipo muito magro sentado na minha cama e sou eu, vejo-me a mim próprio a olhar-me, e com um ar nada agradável, de facto sarcástico e cheio de maldade nos olhos, sentado na borda da cama abano a cabeça para mim deitado, nunca pensei ver alguém a gozar tanto com a minha figura esquelética, muito menos eu, não devemos perder a capacidade de rirmos de nós próprios, mas há limites.
Há limites, deves concordar.
Nessas noites, tardes e manhãs em que penso, ninguém vê, sou um alucinado discreto e não deixo marcas, és um alucinado discreto que não deixa marcas, nem sequer na almofada, porque aprendeste a pensar em circuito fechado, com a experiência: as lágrimas saem juntas, descem pelas calhas do nariz e reentram na boca, como naquelas fontes ornamentais que vemos nas cidades, com um motor interno.
E se eu gostasse muito de morrer, Rui Cardoso Pires. Dom Quixote, 2006.
Há que respeitar um livro com um capítulo chamado "A puta da máquina". Putas de nuvens.
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