terça-feira, março 27, 2007
"FMI - Segunda Parte"
Mãe, eu quero ficar sozinho... Mãe, não quero pensar mais... Mãe, eu quero morrer mãe.
Eu quero desnascer, ir-me embora, sem ter que me ir embora. Mãe, por favor, tudo menos a casa em vez de mim, outro maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e de me encontrar fugindo, de quê mãe? Diz, são coisas que se me perguntem? Não pode haver razão para tanto sofrimento. E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viajem ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe... Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus, e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar...
Assim mesmo, como entrevi um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o azul dos operários da Lisnave a desfilar, gritando ódio apenas ao vazio, exército de amor e capacetes, assim mesmo na Praça de Londres o soldado lhes falou: Olá camaradas, somos trabalhadores, eles não conseguiram fazer-nos esquecer, aqui está a minha arma para vos servir. Assim mesmo, por detrás das colinas onde o verde está à espera se levantam antiquíssimos rumores, as festas e os suores, os bombos de lava-colhos, assim mesmo senti um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o bater inexorável dos corações produtores, os tambores. De quem é o carvalhal? É nosso! Assim te quero cantar, mar antigo a que regresso. Neste cais está arrimado o barco sonho em que voltei. Neste cais eu encontrei a margem do outro lado, Grandola Vila Morena. Diz lá, valeu a pena a travessia? Valeu pois.
Pela vaga de fundo se sumiu o futuro histórico da minha classe, no fundo deste mar, encontrareis tesouros recuperados, de mim que estou a chegar do lado de lá para ir convosco. Tesouros infindáveis que vos trago de longe e que são vossos, o meu canto e a palavra, o meu sonho é a luz que vem do fim do mundo, dos vossos antepassados que ainda não nasceram. A minha arte é estar aqui convosco e ser-vos alimento e companhia na viagem para estar aqui de vez. Sou português, pequeno burguês de origem, filho de professores primários, artista de variedades, compositor popular, aprendiz de feiticeiro, faltam-me dentes. Sou o Zé Mário Branco, 37 anos, do Porto, muito mais vivo que morto, contai com isto de mim para cantar e para o resto.
por:
José Mário Branco, FMI (1982).
A minha arte é estar aqui convosco e ser-vos alimento e companhia na viagem para estar aqui de vez.
Eu quero desnascer, ir-me embora, sem ter que me ir embora. Mãe, por favor, tudo menos a casa em vez de mim, outro maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e de me encontrar fugindo, de quê mãe? Diz, são coisas que se me perguntem? Não pode haver razão para tanto sofrimento. E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viajem ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe... Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus, e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar...
Assim mesmo, como entrevi um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o azul dos operários da Lisnave a desfilar, gritando ódio apenas ao vazio, exército de amor e capacetes, assim mesmo na Praça de Londres o soldado lhes falou: Olá camaradas, somos trabalhadores, eles não conseguiram fazer-nos esquecer, aqui está a minha arma para vos servir. Assim mesmo, por detrás das colinas onde o verde está à espera se levantam antiquíssimos rumores, as festas e os suores, os bombos de lava-colhos, assim mesmo senti um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o bater inexorável dos corações produtores, os tambores. De quem é o carvalhal? É nosso! Assim te quero cantar, mar antigo a que regresso. Neste cais está arrimado o barco sonho em que voltei. Neste cais eu encontrei a margem do outro lado, Grandola Vila Morena. Diz lá, valeu a pena a travessia? Valeu pois.
Pela vaga de fundo se sumiu o futuro histórico da minha classe, no fundo deste mar, encontrareis tesouros recuperados, de mim que estou a chegar do lado de lá para ir convosco. Tesouros infindáveis que vos trago de longe e que são vossos, o meu canto e a palavra, o meu sonho é a luz que vem do fim do mundo, dos vossos antepassados que ainda não nasceram. A minha arte é estar aqui convosco e ser-vos alimento e companhia na viagem para estar aqui de vez. Sou português, pequeno burguês de origem, filho de professores primários, artista de variedades, compositor popular, aprendiz de feiticeiro, faltam-me dentes. Sou o Zé Mário Branco, 37 anos, do Porto, muito mais vivo que morto, contai com isto de mim para cantar e para o resto.
por:
José Mário Branco, FMI (1982).
A minha arte é estar aqui convosco e ser-vos alimento e companhia na viagem para estar aqui de vez.
sábado, março 24, 2007
"Turn me back into the pet that i was when we met."
Gold teeth and a curse for this town were all in my mouth.
Only, I don't know how they got out, dear.
Turn me back into the pet that i was when we met.
I was happier then, with no mind-set.
And if you'd 'a took to me like
A gull takes to the wind.
Well, i'd 'a jumped from my tree
And i'd a danced like the king of the eyesores
And the rest of our lives would 'a fared well.
New slang when you notice the stripes, the dirt in your fries.
Hope it's right when you die, old and bony.
Dawn breaks like a bull through the hall,
Never should have called
But my head's to the wall and i'm lonely.
And if you'd 'a took to me like
A gull takes to the wind.
Well, i'd 'a jumped from my tree
And i'd a danced like the kind of the eyesores
And the rest of our lives would 'a fared well.
God speed all the bakers at dawn may they all cut their thumbs,
And bleed into their buns 'till they melt away.
I'm looking in on the good life i might be doomed never to find.
Without a trust or flaming fields am i too dumb to refine?
And if you'd 'a took to me like
Well i'd a danced like the queen of the eyesores
And the rest of our lives would 'a fared well.
New Slang, The Shins, "Oh, Inverted World" (2001).
Acabei de descobrir o primeiro álbum, mais tarde passo para o novo.
terça-feira, março 20, 2007
Uma coisa linda
The Scribbler, by Ze Frank.
É um programa que desenha contigo. Muito bonito, muito inteligente. Tudo criado por um tipo que é imensamente engraçado e que se deu a conhecer ao mundo com isto: How to dance properly.
Tem aspecto de idiota chapado, mas pode muito bem ser um génio.
É um programa que desenha contigo. Muito bonito, muito inteligente. Tudo criado por um tipo que é imensamente engraçado e que se deu a conhecer ao mundo com isto: How to dance properly.
Tem aspecto de idiota chapado, mas pode muito bem ser um génio.
segunda-feira, março 12, 2007
sábado, março 10, 2007
Someone Great
ok. very simple.
i would like to be a top 40 artist. then i could say "i am a top 40 artist" or things like that. my ingenious idea for achieving said goal is called the i'm-going-to-ask-people-who-were-going-to-
buy-the-record-anyway-to-just-buy- it-all-at-the-same-time technique. it goes like this: if you aren't going to buy the record for whatever reason, fair enough. but if you are going to, it would be interesting to do it the week it comes out, because i'm curious, given the "lowered bar" of top 40-ness, if we could get there. then i could call top 40 radio stations and ask them to play my record, which they won't do anyway, but then i can say "but i thought this was a top 40 station?"
it's a lot of work for what basically results in a one-liner, but i'm thinking if i supply super-easy online pre-ordering options, then it's not anyone else's work, really. if you were going to get it anyway, then help me out.
maybe that's my slogan: "if you were going to buy it anyway, why not by it this week."
pretty compelling stuff, no?
Absolutamente viciante.
lcd soundsystem
(p.s.: ouçam uma chamada "Someone Great")
quinta-feira, março 08, 2007
Gente que aperece em intervalos de estudo
"The video, a boy-meets-girl, boy-loses-girl-to-mosh-pit love story, was an augur of things to come in a more obvious way: the girl was wearing a Nirvana t-shirt."
allmusic.com
"Dirty Boots",
Sonic Youth, Goo.
1990.
Só para não esquecer que esse terramoto que se chamou Nevermind surge um anito depois. Será que o Cobain andava a ouvir Sonic Youth, Yo La Tengo ou Pixies?
quarta-feira, março 07, 2007
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