quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Só porque hoje

Não me lembro de termos fugido naquela noite. Lembro-me de ter corrido, caido, esmurrado o joelho. Lembro-me de teres sorrido e dizeres, És tão desajeitado. Lembro-me de ter telefonado umas horas antes, Estás em casa? Onde havia de estar a esta hora? Eu sei lá, disseste que tinhas de sair. Então anda buscar-me. E eu fui. Saiste, não acordaste os teus pais, a tua irma não quis vir, Amanhã tenho aula prática às 8, portemse bem. Não me lembro de termos visto um filme, mas ele anda no banco de trás do carro. Lembro-me da areia, do frio, da humidade, de te perguntar, Que viemos aqui fazer? Não sejas chato, Está frio. Acho que foi ai que começaste a correr, estavamos a fugir? Acho que foi ai que cai na madeira cheia de areia, estavamos a sorrir? Eu conduzo, seu aleijadinho. Nunca me levas a sério quando me queixo, em vez disso gozaste com o cd que estavamos a ouvir, Gostas mais da musica quando ela é esquisita, não é? Vamos alugar um filme? Não sei, um esquisito? Paraste no semáforo, Não faças essa cara, um doi-doi não é um trofeu para meninos da tua idade. "Essa cara" - só já não me lembrava de última vez que fui passajeiro. É bom, o mundo parece mais calmo, há luzes e árvores, e elas parecem mortas. As luzes, não as árvores. E tu arrancaste. Vamos por ali que é mais longe. É óptimo conduzir à noite na cidade vazia, não é?

Só porque hoje, gostava que tivessemos fugido.

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