Depois de ter criado o conceito de Deus, o Criador, o homem deu por si insatisfeito. Com efeito, apesar do comprovado valor pragmático desta imagem, através da qual as artes nobres da música e da literatura, da arquitectura, da pintura e da escultura, juntamente com as artes menos nobres do homicídio, do furto e da exploração humana em geral, foram transportadas até às alturas, algo ficara ainda por concretizar: o impulso de curiosidade no homem continuava insaciado.
[...]
Assim, o significado mais profundo de uma máquina, a câmara, emergiu aqui na América, o altar supremo do novo Deus. Se isto é irónico, poderá igualmente ser significativo. Com efeito, apesar do nosso aparente bem-estar, estamos, talvez mais do que quaisquer outras pessoas, a ser esmagados pelo calcanhar do novo Deus, destruídos por ele. Não simpatizamos particularmente, como Natalie Curtis assinalou recentemente em The Freeman, com a atitude algo histérica dos Futuristas em relação à máquina. Aqui na América não estamos a lutar, como talvez seja natural fazer em Itália, para nos libertarmos dos tentáculos de uma tradição medieval e nos lançarmos nos braços neurasténicos do novo Deus. Temo-lo connosco e sobre nós como uma vingança, e acabaremos por ter de fazer qualquer coisa acerca disso. Não apenas o novo Deus mas toda a Trindade têm de ser humanizados para que não nos desumanizem a nós. Estamos talvez a começar a perceber isso.
Fotografia e o Novo Deus. Paul Strand, 1922.
Sem comentários:
Enviar um comentário