quinta-feira, fevereiro 27, 2014

Um mundo à parte

A constatação do carácter predatório da construção em relação ao território, aventura do acaso, oferece um panorama de conjunto traçado no descontrolo ambiental e no caos urbanístico, em grande parte causado por um desenvolvimento imobiliário apressado e por falta de instrumentos de previsão. Ainda assim, este descontrolo abriu espaço para alguns aspectos positivos, essencialmente evidentes no progresso social e económico paradoxalmente subjacentes a estes desequilíbrios e à desqualificação da ocupação do meio ambiente.
Perante o cenário de catástrofe a reacção pública tende a ser fragmentadora, recusando o novo e concedendo a priori que qualquer tecido antigo e consolidado seja "belíssimo" e que qualquer projecto contemporâneo seja "horrível". A defesa e a preocupação em torno dos centros históricos, por exemplo, configuraram-se como uma espécie de hipocrisia: como se nos centros tradicionais existisse uma grande qualidade que a arquitectura contemporânea destrói, enquanto que "o resto" é considerado um mundo à parte onde se pode construir com leviandade.

André Tavares, António Madureira, João Soares e Maddalena d'Alfonso. Arquitectura em Portugal, um roteiro fotográfico. São Paulo, 2003.

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