terça-feira, outubro 25, 2011

O fascínio pelo sublime

Essa comoção não esconde um enorme fascínio, que precisa de ser disfarçado com pudicas exclamações de horror. E esse fascínio - que é o fascínio pelo sublime - tem por base o kitsch espectacular do qual ficamos reféns. Não são as fotografias e os registos em vídeo que são difundidos, editados, sublinhados, musicados, legendados, repetidos, de modo a exercer uma ditadura emocional. O músico alemão Karlheinz Stockhausen, logo a seguir ao colapso do World Trade Center, disse que se tratava da maior obra de arte total. Foram declarações muito inconvenientes, que lhe valeram o cancelamento de muitos concertos. Mas estas palavras de Stockhausen era afinal o pronúncio de uma estetização irresponsável que viria a seguir, ao nível das revistas de moda. O resultado é o que se vê. Se Flaubert voltasse para rescrever o seu "Dictionnaire des idées reçues", diria na entrada sobre o 11 de setembro: "Deste dia, dizer sempre 'o dia em que...'"

António Guerreiro, Ao Pé da Letra (Atual, 17/09/2011).

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