Na sala de leitura da insónia,
quando o carro do lixo é
a única resposta ao silêncio
e cada instante é um amante
que matamos num abrir e fechar de pernas,
acompanho em eco, até à estação,
os passos apressados das empregadas de limpeza.
Para elas, não há inferno. Simplesmente,
evitam sonhar.
Para nós, o autocarro 738 irá sempre ao Calvário,
mesmo se pago o bilhete.
No horizonte lento mas seguro de uma utopia light,
passo o dia a vender o meu terceiro mundo
em colóquios e palestras internacionais.
Mostro a toda a gente o canino de ouro,
a minha pele de girafa,
a bibliografia em francês.
Escrevo a palavra vazio
depois da palavra espera.
Pouso as mãos sobre os joelhos cansados.
Limpa
mas mal vestida,
- olhai -
sou o novo modelo para o fracasso.
Golgona Anghel.
Sem comentários:
Enviar um comentário