Falemos de casas, da morte. Casas são rosas
Para cheirar muito cedo, ou à noite, quando a esperança
Nos abandona para sempre.
Casas são rios diuturnos, nocturnos rios
Celeste que fulguram lentamente
Até uma baía fria - que talvez não exista,
como uma secreta eternidade.
Falemos de casas como quem fala da sua alma,
Entre um incêndio,
Junto ao modelo das searas,
na aprendizagem da paciência de vê-las erguer
e morrer com um pouco, um pouco
de beleza.
Falemos de casas; Herberto Helder, A Colher na Boca.
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