Dois textos que escrevi não sei bem porquê, em dois bocados, nos intervalos de outras coisas talvez, quase de certeza, mais importantes. Acho que é bem capaz de ter saído uma xaropada de série b, mas mais vale enfiar aqui do que na gaveta.
31 fachadas
Também tirei fotos a uns putos que estavam na Trindade a comer gelados. Um tempo de caca, o céu todo cinzento, guarda-chuvas debaixo dos braços e os putos ali sentados a comer gelados, ralados com tudo menos com o mundo que ficava fora daqueles sundaes de chocolate (ou de caramelo? um pelo menos havia ser). O mais gordito estava a contar piadas muito porcas, acho que falava alto de propósito, só para chocar as pessoas que passavam. Um erro do inocente, já ninguém se incomoda nas nossas cidades. E os outros riam, deslizavam uns para cima dos outros. Mas de certeza que a foto também vai ficar uma porcaria, como as das fachadas, não havia luz. Mas eu estava lá, eu vi, hoje não é o dia certo para chorar.
Finalmente começou a chover, os putos ficaram até acabar o gelado, rasparam o fundo com a colher de plástico e depois correram por ali abaixo.Havia um comboio que não se importa muito com a chuva em S. Bento, e putos têm sempre onde estar àquela hora, a qualquer hora. Acho que não caíram, não escorregaram no chão molhado pela chuva, afinal aquele não era o dia certo para chorar.
Ideias novas (sobre coisas velhas)
É que a solidão tem dessas coisas. Ou pensavas que ser livre e não ter ninguém para amar era um estado de graça alimentado pela possibilidade imaginária, mas teoricamente possível, de potencialmente te apaixonares pelo mundo todo (ou por quem queres, o que é quase a mesma coisa). Não. Isso de ser livre e não ter ninguém para amar é para um tipo de corajosos sobre os quais tu apenas soubeste pelos livros que a tua avó te lia enquanto a tua mãma trabalhava mais do que devia para poder ter o orgulho de ser uma competente mãe solteira. (E depois, quando chegava a casa, quando pensava que estavas a dormir, ela chorava, e foi assim que tu soubeste que jamais, alguma vez na vida estarias sozinho, sem ninguém).
Mas eu nunca vi a minha mãe a chorar. Na semana em que me explicaste o que era isso de ter um prazo de validade, troquei de carro, mudei de sítio o sofá da sala e continuei a riscar guardanapos. No outro dia, o João – qualquer dia falo-te dele – pegou na tua foto e perguntou, Quem é este? E só me deu vontade de rir. Porque guardo a tua foto? Tu é que te esqueceste de a levar.
9 comentários:
acho que há um outro sitio bem mais indicado para estes textos... :) (desculpa nao conseguir dizer mais nada, adorei os dois) *
Meu querido, apenas e absolutamente lindos. Sem palavras para descrever o que fazes sentir quando mostras os teus rabiscos ao mundo.
Espero que troques sempre a gaveta por uma publicaçãozinha... para que te possa ler um bocadinho mais.
PS - Esperamo-los no CL.:P!!
não é mau não senhor. E vê isto como uma crítica de um pseudo-intelectual desgradável e não executor de nada.
assim ainda me ponho para aqui a chorar e isto transforma-se numa coisa um bocado lamechas. Para compensar, o próximo post vai ser sobre gajas na capa da maxmen ou uma banda de death metal... se não isto ainda se transforma no blog da luciana :)
beijos e abraços
gostei mt mas acho que tens mais mão para desenhar polos,,, ou t-shirts!!
Ohhhhhhhh... miau. (não vale gozar blogs de pessoas pequeninas)
oh querida, eu adoro o teu blog! sei q se me tentar colar ao teu estilo vou parecer sempre uma copia rasca, uma imitação foleira, um brinquedo em segunda mão...
:)
Beijo
impossível tu pareceres qq coisa semelhante a isso mas... obrigada pela meiguice anyway!!! :)
Está muito bom caro colega! Continua a alimentar-nos com os frutos da tua prosa. E não te esqueças que agora temos um caderno literário, partilha estes dois belos exemplares com mais pessoas! Não sejas egoísta! :)
Abraço e mais uma vez parabéns!
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