Fui votar.
Aqui na província, a 30 km do Porto isso significa viagem à escola secundária mais próxima. Significa aturar os sôs agentes da GNR mais os seus patroles verdes de esgelha em cima do passeio enquanto a autoridade controla a população cumpridora.
Significa também escapar às senhoras da cruz vermelha. Dar a moedinha tudo bem, agora levar com o autocolante da cruzinha para toda a gente ver como eu sou generoso se calhar já é de mais. Se precisam de dinheiro não o gastem em idiotices. Ai eu até não me importava de comprar a CAIS, mas os gajos não oferecem autocolante com a revista. (…)
Também significa aturar os senhores e senhoras que pertencem à maravilhosa faixa de população ainda mais (!) cumpridora que fica a guardar a mesa de voto, esse altar da democracia. Oh, esses maravilhosos cidadãos, que se queixam porque veja lá (…) já uma da tarde e ainda nem fui almoçar. Oh, como é pesada a farda dos defensores da democracia.
Cumprido o dever cívico, entrei em modo “fugir para casa que hoje é domingo e eu sou alérgico a fato de treino”.
Mas fui detido.
Nos corredores desta casa do saber, entre os cartazes que os meninos do agrupamento 1 fazem sobre a camada do ozono, as manchas de humidade e um relógio que sobrou do tempo em que não se faziam estas maluqueiras dominicais, descansavam objectos pretos, com um ar muito clean e hi-tech.
Luzinhas azuis e vermelhas. 2 anteninhas, uma de cada lado. Deve ser do alarme dizia um cidadão cumpridor. (todos os portugueses são entendidos em todo e qualquer assunto – fosse isto um reactor nuclear e o cidadão cumpridor se apressaria a descrever o processo de fissão nuclear porque lá na fábrica trabalho um gajo, meio monhé, que veio lá da terra do chernobilhas)
Eu, do alto da minha portuguesidade, atiro um palpite: aquilo era um router Wi-Fi. E havia lá um de 10 em 10 metros. Em todas as salas. Em tudo o que era parede.
Pois é. A maioria dos iluminados que frequenta aquelas salas de aulas, chega ao primeiro subsídio de desemprego ou à faculdade (não necessariamente por esta ordem) a pensar que os computadores só servem para o Quake, o Word, e para copiar um ou outro trabalho de história de um site brazuca.
Para eles a Internet é um buraco sócio-geracional (porque os cotas não percebem nada daquilo) onde só cabe pornografia, messenger, e conhecimentos científicos mal amanhados para encher o olho de uma professora velha e cansada de mais para perceber a manhosice. Adoram-na portanto. Tiram dela todo o partido.
Por isso, que bom! Que moderno! Internet para os meninos! Ai vão ficar a saber tudo… ai que no meu tempo não havia nada disto…
Sim, sim a Internet é muito poderosa. É um recurso muito valioso para os meninos.
Mas, assim só para chatear… que raio de miúdo do ciclo, de uma terrinha, muito terriola, longe de tudo o que é mundo tem um computador portátil? O mimado e riquinho que leva uma coça sempre que sai com o seu toshiba à rua?
Não seria tipo, mais útil, simplesmente colocar ao dispor dos alunos mais computadores? Ligados à net, com um cabo.
Ou, porra, se têm de ter o Wi-Fi, escolhiam uma sala, a que iriam chamar (com muita pompa) sala de computadores. Espetavam na parede dessa sala um moderno router Wi-Fi. Colocavam na sala computadores com placas de rede Wi-Fi. E pronto!
Internet! E sem fios! (que moderno, ah?)
É que assim, os alunos podiam aceder à Internet!
Eu bem sei que olhar para aquelas luzinhas vermelhas e verdes estimula a imaginação. Eu bem sei que os meninos e meninas de hoje precisam de sonhar, de imaginar mundos interiores.
Agora dar routers a quem não sabe bem o que é a Internet é um bocadinho cruel. A escola devia ser para os putos. (eu hoje estou um querido)
Acho eu.
É pá, mas votar desta vez deu cá um gozo.
De nada Pedro.
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